AUTOMATISMOS NA LEITURA
Para
poder compreender os textos, a criança disléxica deve ter um alto nível
de automatismo na identificação das palavras escritas. É o
desenvolvimento desta competência que lhe permitirá atingir um nível de
compreensão escrita igual ao da sua compreensão oral, libertando-a do
peso da descodificação lenta e laboriosa ou ao recurso de antecipações
contextuais árduas. A dislexia manifesta-se precisamente na incapacidade
de desenvolver este tipo de competência.
DISLEXIA E VELOCIDADE DE LEITURA
Os
estudos realizados mostram que os treinos, relativos à descodificação,
não melhoram ou fazem-no de forma pouco eficiente, a velocidade de
leitura, que necessita de outro tipo de treino.
Segundo
a literatura, o treino mais reconhecido como eficaz sobre a fluidez, ou
seja, a rapidez da leitura, é a técnica de repetição de letras,
sílabas, palavras e frases lidas.
Esta consiste em repetir continuamente até se obter uma determinada
velocidade. É aconselhável um treino de seis minutos diários, durante
seis a nove meses.
DISLEXIA E CONSCIÊNCIA FONÉMICA
Actualmente, é sobejamente reconhecido que :
1.
As crianças do pré-escolar e do 1º ano de escolaridade que apresentam
um atraso na aquisição da consciência fonémica, são crianças
susceptíveis de manifestarem dificuldades na leitura.
2. As crianças mais velhas e os adultos que revelam dificuldade em ler, apresentam uma lacuna ao nível da consciência fonémica.
3.
Os métodos utilizados na reeducação da dislexia que dão ênfase à
consciência fonémica reduzem, com sucesso, as dificuldades na leitura.
O TREINO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NO PRÉ-ESCOLAR PODERÁ FUNCIONAR COMO UMA PREVENÇÃO DA DISLEXIA?
Embora
alguns autores desvalorizem a importância do desenvolvimento das
capacidades do processamento fonológico da língua materna, um estudo
realizado em 1999, na Alemanha, por Schneider, W., Ennemoser, M., Roth,
H. e Küsport, P., concluiu a importância do treino nas crianças com
baixa consciência fonológica.
O
estudo foi realizado com crianças com QI dentro da média, às quais foi
passado um pré-teste que avaliou o seu nível de consciência fonológica
(classificado de fraco, médio ou elevado). Foi implementado um programa
de treino, com a duração de seis meses, não tendo o grupo de controlo
usufruído de qualquer treino. No final, foi realizado um pós-teste. Às
crianças do grupo experimental também lhes foram passados testes de
leitura e escrita, no final do 1º e 2ºanos de escolaridade. Para mais
pormenores, consultar o “ journal of Learning Disabilities”, Vol. 32,
nº5.
Neste estudo concluiu-se que:
1.
As crianças que apresentavam fracas habilidades metalinguísticas (de
risco), apresentaram uma grande melhoria no desenvolvimento da sua
consciência fonológica;
2.
As crianças de risco que participaram no treino fonológico continuaram a
progredir, comparadas com as crianças de risco, mas não treinadas, até
ao final do 2º ano de escolaridade;
3.
É evidente e claro que o desenvolvimento da consciência fonológica não
foi proveitoso para todas as crianças que participaram neste estudo. No
entanto, a maioria beneficiou do treino, a curto e a médio prazo;
4.
O potencial dos programas de desenvolvimento da consciência fonológica,
no pré-escolar, não deve ser subestimado, já que se pode afirmar, com
alguma certeza, que há redução da prevalência das Dificuldades de
Aprendizagem/dislexia, nas crianças de risco;
5.
Ainda que o treino tenha ajudado a maioria das crianças do grupo
experimental, algumas, de cada grupo, não obtiveram qualquer benefício.
Na
globalidade, foram as crianças de risco que mais usufruíram do treino
da consciência fonológica, porque houve uma influência significativa no
seu desempenho na leitura e na escrita.
As
crianças de risco, treinadas, ultrapassaram consideravelmente os seus
colegas, não treinados, ao nível do 1º ano de escolaridade, enquanto que
a diferença entre os dois grupos diminuiu na leitura, no final do 2º
ano, mas foi mais marcante a nível da ortografia.
Os
resultados indicam, de forma clara, que o treino das crianças
consideradas de risco, no pré-escolar, contribui para a diminuição das
dificuldades de aprendizagem/dislexia, não a eliminando totalmente.
DE QUE FORMA RECONHECEMOS AS PALAVRAS ISOLADAS?
Existem dois processos na identificação das palavras lidas.
1. Leitura pela via lexical, ou seja, o reconhecimento global
Reconhecimento visual de toda da palavra
2. Leitura via fonológica, ou seja, mediação fonológica
Decomposição da palavra e conversão das letras em sons
Um leitor competente utiliza eficazmente as duas vias.
A título de exemplo apresentamos a seguinte frase:
Ontem, a mãe de Otrudokabé convidou-nos para lanchar em sua casa.
Quase
todas as palavras desta frase são conhecidas. O leitor competente vai
utilizar a via lexical para ler a mensagem, excepto a palavra
Otrudokabé, para a qual vai utilizar a via fonológica. Com efeito, sendo
uma palavra desconhecida, tem de a decompor.
A CONSCIENCIALIZAÇÃO FONÉMICA
Recentemente foi publicado o livro,”Como aprender a ler?”, com prefácio de José Morais e no artigo escrito por Roger Beard, refere a importância da consciência fonémica (CF).
O relatório do National Reading Panel (Plano Nacional de Leitura)”
revelou que ensinar crianças a manipular os sons da linguagem ajuda-as a
aprender a ler. Os efeitos do treino da CF perduram muito além do final
do treino. O ensino da CF produziu efeitos positivos, quer na leitura
de palavras quer na leitura de pseudopalavras. Isto indica que a CF
ajuda as crianças a descodificar palavras que são visualmente novas para
elas, tal como as ajuda a lembrarem-se de como ler palavras familiares.
O
treino da CF foi eficaz no estímulo da compreensão de leitura, apesar
de o impacto ser menor do que na leitura da palavra. …De acordo com o
NRP, a CF avaliada no início no jardim-de-infância é uma das melhores
formas de prever o nível de sucesso da criança na leitura, em paralelo
com o conhecimento das letras.
Tem
havido um extenso debate profissional (por vezes referido como “guerras
da leitura”) sobre esta matéria. O debate tem-se focado na hierarquia
desenvolvimental e na importância da descodificação versus competências de compreensão. Os compromissos actuais enfatizam:
· Um equilíbrio entre os dois tipos de competências numa fase precoce do ensino
· O
reconhecimento de que ambos os tipos de competências interagem e podem
compensar-se mutuamente durante a leitura (Adams, 1990; Stanovich,
2000)”.
DISLEXIA, QUE FUTURO?
A evolução das dificuldades dependerá de vários factores:
1. Tipo de dislexia/disortografia e da sua gravidade;
2. Diagnóstico precoce;
3. A regularidade da intervenção;
4. A colaboração da família com todos os intervenientes no percurso académico do aluno;
5. Os apoios necessários para manter a motivação, face ao insucesso escolar.
Nas
dislexias leves a moderadas, as dificuldades reduzir-se-ão, não
desaparecendo totalmente e não comprometerão a escolaridade nem o
prosseguimento dos estudos secundários, ou mesmo universitários, apesar de persistir um handicap na escrita.
Nos
casos de dislexia mais severa poderão ser propostas orientações
escolares especializadas, assim como, orientações profissionais em
função dos interesses dos alunos.
fonte: http://dislexiapafid.blogspot.pt