Este
trabalho tem o objetivo de reunir algumas informações sobre um período
tão importante do desenvolvimento humano que é a adolescência. Isso
porque, é importante ao psicopedagogo, frente um adolescente com
problemas na aprendizagem, entender as características comuns a este
período de modo a ajudar os pais a obterem uma melhor compreensão da
fase pela qual passa o filho e poderem juntos discrim
inar
o que é fruto de problemas na aprendizagem e o que faz parte de uma
etapa de desenvolvimento normal dos sujeitos, de maneira a ser realizada
uma adequada intervenção.
A adolescência não é conhecida como
um período temido à toa. Se observarmos os estágios do desenvolvimento
humano, poderemos perceber que a adolescência é um período relativamente
curto se considerarmos o grande número de transformações a que o
sujeito nesta fase é submetido.
Há uma verdadeira revolução que leva a mudanças biopsicossociais.
O surgimento da puberdade, marco de todo esse processo, inicia a
entrada do sujeito no mundo adulto. Esta fase é caracterizada por toda
uma série de transformações, adquirindo o corpo, as características
sexuais secundárias que causarão a definitiva perda do corpo infantil.
A velocidade com que essas mudanças corporais ocorrem pode não ser
acompanhada pela necessária mudança em relação à representação mental do
próprio corpo, daí a freqüência com que se encontra adolescentes
desajeitados.
Isso se deve pelo fato de as alterações corporais que
surgem serem mais rápidas que o desenvolvimento da percepção e
representação mental.
Há, conseqüentemente, mudanças no
comportamento emocional, social e intelectual, isso porque o pensamento
que dá um salto no desenvolvimento, passará a funcionar das operações
concretas para as abstratas.
O pensamento formal começa a se
estruturar a partir dos 11/12 anos. A adolescência é o período no qual
se espera que o jovem supere as características do raciocínio lógico
concreto e possa estruturar seu pensamento a partir de conceitos
abstratos. Passando a relacionar e pensar sobre conteúdos aprendidos e
sobre fatos vividos ou imaginados.
O estágio das operações
formais será alcançado segundo o estabelecido das fases de
desenvolvimento anteriores a ele, e sobre as quais irá alicerçar-se.
A criança que internalizou as figuras parentais e o ambiente segundo o
desenvolvimento de sua percepção, passando pelos estágios sensório
motor, pré-operatório e operatório concreto terá, com o aprimoramento de
sua cognição para as operações abstratas, uma diferente percepção do
mundo.
Isso quer dizer que amplia sua percepção do ambiente,
passando a manipular idéias quando antes se limitava a manipular
objetos. A aquisição da capacidade de abstração e interpretação
possibilita refletir sobre situações abstratas, relacionando-as com
outras informações e fazer julgamentos. Isso a leva a escolher para si
novos valores.
A conseqüência disso recai imediatamente nas
figuras parentais que passarão a ser vistas sobre um outro prisma e, com
isto, o questionamento às regras e a freqüente rejeição a qualquer
idéia ou sugestão vinda deles.
Alterada sua percepção do mundo
também terá mudado seus gostos e interesses. Passando a fazer escolhas
anteriormente rejeitadas e a se aproximar de pessoas diferentes.
Mudam-se os gostos e simpatias.
É uma passagem evolutiva que
depende não só de aspectos relacionados à individualidade do sujeito
como também do sistema familiar e social do qual ele participa.
Teremos então um sujeito que, simultaneamente às alterações físicas,
sofrerá mudanças nos aspectos emocionais, sociais, sexuais e
intelectuais. No entanto, apesar dessas mudanças serem desencadeadas
simultaneamente, elas evoluirão em ritmos diferentes, repercutindo em um
processo de desenvolvimento assimétrico.
A nível orgânico, o
término desse processo irá ocorrer aproximadamente aos 16 anos. Não há,
no entanto, uma idade limite rígida, havendo a possibilidade de
variações segundo cada um.
No entanto, se o organismo tem uma idade
aproximada para o fim da adolescência esta fase não se reduz apenas às
alterações físicas, mas também psicossociais. Daí que o término da
adolescência será considerado a partir da conquista pelo sujeito da
maturidade biopsicossocial.
Quanto aos aspectos sociais que
determinarão o término da adolescência, estes variarão segundo a cultura
e o grupo no qual o jovem está inserido, pois serão suas exigências e
expectativas que contribuirão ou retardarão a entrada do sujeito no
mundo adulto.
O ADULTO FRENTE O ADOLESCENTE
As
inevitáveis modificações físicas e orgânicas desta fase ocasionam um
olhar diferente por parte do adulto, pais e professores, que passam a
cobrar dos jovens posturas “adultas” segundo as aquisições culturais do
grupo.
Submetido às pressões dos grupos sociais surgirão
mudanças na personalidade que por um tempo oscilará entre o surgimento
de comportamentos ora infantis, ora adultos.
O mundo adulto que
antes protegia o jovem passa a cobrar-lhe maturidade segundo as
características físicas recentemente adquiridas, sem compreender a
desigualdade no desenvolvimento do sujeito que ora se apresenta como
adulto, ora como criança.
O jovem, na busca de seu lugar no mundo passa a procurar além do círculo familiar, ajustar-se aos padrões de outros grupos.
O casal parental, quando recorre ao atendimento psicopedagógico de um
filho adolescente, apresenta-se freqüentemente com sentimentos de menos
valia em relação a seus papéis de pais. Sentem-se confusos com o
crescimento dos filhos que já não aceitam sua autoridade e idéias sem
questionamento.
O enfrentamento que o jovem passa a manifestar
contra qualquer situação que, mesmo remotamente, o lembrem de seu
período de infância, leva os pais a responderem com diferentes
comportamentos. Alguns apresentam reação depressiva, geralmente as
mães, pela perda que sentem da maior proximidade que costumavam ter com
os filhos, sendo o crescimento e conseqüente independência, recebido com
tristeza e até com o surgimento de distúrbios psicossomáticos.
Encontramos pais absolutos sobre o que é certo e o que é errado em
opiniões e atitudes as quais impõe ao jovem, sem considerar sua
possibilidade em diferir.
Há pais indiferentes que se omitem em
dialogar com o jovem, ou por acharem que ele precisa se decidir sozinho,
sem interferência ou por se ressentirem do comportamento desafiador
deste e assim deixam o jovem opinar e agir sem parâmetros, pois não há
com quem ele possa diferir de opinião. E pais negociadores que,
conscientes do poder de decisão que lhe compete enfrentam e argumentam,
não temendo contrariar o jovem e nem reconhecer quando este tem razão.
A entrada do filho na puberdade pode ser uma fase de grande sofrimento
para pais que se ressentem da perda do corpo infantil. Esse sentimento
de perda pode ser indício de problemas se for acompanhado pela negação
da natural e crescente autonomia dos filhos.
Observamos com
certa freqüência que o jovem que é submetido a uma proteção exagerada,
traz consigo prejuízos pela falta de possibilidade de independência e
individuação decorrentes da superproteção. Conseqüentemente, apresenta
prejuízos no seu potencial criativo e de resolução de problemas.
A falta de possibilidades em tornar-se gradualmente independente
culmina em uma entrada na adolescência permeada de insegurança e
vergonha pela falta de capacidade em se cuidar sozinho. Isso
inevitavelmente repercute em crise no relacionamento com os pais que,
acostumados a exercer uma postura superprotetora, entrarão em confronto
com o comportamento adolescente de busca de liberdade e enfrentamento
aos limites.
Há pais que não se dão conta de que suas
preocupações podem sufocar e/ou minar qualquer potencial que o filho
possa ter em sua vida.
Alguns pais podem sentir, no crescimento e
autonomia dos filhos, a evidência de seu envelhecimento e tornam-se
confusos com a sobra de tempo que surge em decorrência de não serem mais
tão necessários.
O casal parental pode ter pendente o
enfrentamento de questões de seu relacionamento que o cuidado com os
filhos ajudaram a protelar. Ter tempo sobrando por não ser mais tão
necessário ao filho exigirá um reposicionamento que o casal, muitas
vezes, não está preparado para viver.
A ênfase no insucesso que
o jovem apresenta, em alguns casos pode ser interpretada como uma
maneira de aproximação mantendo os pais em uma posição de cuidados e
atenção semelhante aos primeiros anos escolares.
Para muitos pais isso se torna motivo de grandes brigas e recriminações sobre o filho.
As excessivas queixas dos pais podem levar o jovem a mergulhar em um espaço onde só há o errado em sua vida.
O jovem desprovido de qualquer qualidade embarca nas queixas e
lamentações que a escola e pais fazem dele, deixando perdida qualquer
possibilidade de sucesso.
Às vezes é dotado de qualidades tão diferentes do que a família espera dele que elas passam despercebidas.
Despertar o interesse do jovem pelos estudos e pela busca de caminhos
de realização tem relação direta com experiências de sucesso. Isso
porque ser bem sucedido desperta o sujeito para a realização de
atividades enquanto que, o mau desempenho, o afastará das tentativas de
realização. Possibilitar uma visão real sobre os talentos do jovem e
prestigiá-lo justamente, sem excessivas críticas, é a melhor postura
para ajudá-lo em sua conquista do mundo adulto.
Frente à
constante recusa dos jovens em acatar suas palavras, alguns pais passam a
sofrer e considerar que educaram mal os filhos, interpretando a
necessidade que estes tem de manifestar idéias próprias como desafios à
sua autoridade e falta de respeito.
O jovem tende a interpretar
a dependência como uma característica infantil e passa a confundi-la
com a autoridade dos pais, indo contra qualquer pedido ou sugestão
destes por considerá-los manipulação. É uma ação de recusa em continuar
criança, uma demonstração de que já é capaz de ter vontade própria.
As mudanças físicas, psicológicas e sociais que ocorrem repercutem na
conscientização de que não são mais crianças e passam a ser mais forte
em suas exigências, entendem que ser independente é fazer o que tem
vontade e isso levará a conflitos por ainda serem dependentes
economicamente.
Lamentavelmente existe a tendência nas famílias
de utilizarem os aspectos econômicos como o elo mais forte ao qual
mantém os jovens submetidos, utilizando-se deles com freqüência para
impor sua vontade.
O sujeito superará a fase de adolescência
quando ultrapassar a necessidade de oposição e auto-afirmação, ouvindo
com tranqüilidade opiniões diferentes das suas sem sentimentos de ameaça
à sua pessoa, bem como aceitar para si as idéias que lhe transmitem que
lhe são convenientes.
O ADOLESCENTE E A ESCOLA
O período em que se desenvolve o pensamento formal é a adolescência e
este período será mais bem desenvolvido quanto melhor estiver a vivência
social do sujeito, o que dá à escola um papel muito importante.
Enquanto o desenvolvimento das fases anteriores ocorre independente da
criança ir ou não à escola, o bom desenvolvimento do pensamento formal
está relacionado à interação entre o desenvolvimento maturacional e as
experiências de vida.
O gradual desenvolvimento que ocorre em
cada estágio envolve condutas sociais que levarão a criança a
confrontar-se com situações, onde lhe é exigido considerar o outro em
detrimento da realização de seus desejos. A princípio voltada só para
seus desejos, não considera ou percebe desejos e opiniões que não são
dela.
A descentração que ocorre então, possibilitará a
interação entre as idéias que o sujeito traz com as de outros,
repercutindo em uma troca que, para ocorrer satisfatoriamente, exigirá
de cada sujeito envolvido que se comunique de modo organizado e claro de
maneira que consiga sustentar sua opinião.
O papel da escola
neste período é de fundamental importância pelo leque de experiências
sociais que oferece aos jovens e pelo exercício constante que exige
deles na elaboração de seu pensamento, na medida que utiliza a linguagem
para a transmissão de informações e cobra do jovem a organização
destas, e da sua própria maneira de comunicá-las.
A vida
acadêmica exige um desenvolvimento crescente das aquisições que envolvem
a linguagem trazendo vocabulários diferentes dos utilizados e que são
muitas vezes difíceis de associar a palavras conhecidas. A evolução da
linguagem passa da utilização de palavras de sentido concreto para o
abstrato.
A escola não só oferece palavras novas, mas também
utiliza uma estrutura de frases onde o sujeito da oração não está
imediatamente após ou antes do verbo e, nem sempre aparece, o que pode
levar alguns alunos a se confundirem ao tentar compreender as
informações.
As regras gramaticais podem levar a conflitos daí
encontrarmos jovens que se expressam com palavras ou frases curtas, de
modo a não se verem obrigados a porem o pensamento em ordem na oração.
Esses jovens, não conseguem organizar suas idéias de modo a transformá-las em orações compreensíveis.
Percebemos em suas verbalizações e produções escritas, ordem confusa na
colocação do sujeito e do verbo na oração além de má utilização dos
tempos verbais.
Frente à dificuldade em compreender orações complexas as informações nelas contidas ficam sem sentido.
Do Ensino Fundamental II ao Ensino Médio a complexidade em relação à
estrutura das orações aumenta exigindo dos estudantes a compreensão de
mensagens implícitas, das ironias e dos trocadilhos.
Alunos com
dificuldade no uso da linguagem terão declínio no desempenho acadêmico
conforme a evolução e complexidade das diferentes disciplinas.
Os professores, para dar conta das diferentes maneiras que cada aluno
tem de se apropriar do conhecimento, devem se utilizar não só da
oralidade, mas também de ilustrações, da escrita, enfim de todas as
formas de expressão para alcançar seus alunos respeitando assim suas
diferentes maneiras de estruturar o pensamento.
O sucesso escolar é possível para aqueles que conseguem utilizar a
linguagem com facilidade isso porque as seguidas instruções e
informações apresentadas em sala de aula requerem uma certa facilidade
em se apropriar de todo o significado das mensagens para acompanhar o
ritmo das aulas.
O professor que deseja manter seus alunos
motivados deve possibilitar situações de desafio e sucesso para todos e
não só para alguns, os eleitos melhores.
É comum a escola
estabelecer um trabalho pedagógico que atende a necessidade infantil até
o término do ensino fundamental I. A partir da entrada no ensino
fundamental II (5a série) há uma mudança brusca no método que
desconsidera a assimetria do processo de desenvolvimento pelo qual está
passando a criança.
Isso repercutirá em grande angústia para pais e
professores que elevam o nível de exigência sem que todos estejam aptos a
cumpri-la. Daí o surgimento do mito sobre a quinta série, muitos alunos
ainda estão com as características psicossociais bastante infantis e
conseqüentemente, sua qualidade de pensamento também.
Os pais
que se empenharam na transmissão de valores e referenciais que foram
aceitos na primeira infância, passam a ter suas ações e opiniões vistas
com desconfiança pelo jovem que não as reconhece mais como universais.
A ocorrência de conflitos é inevitável tanto em relação à aprendizagem
de conceitos que exigem uma maior abstração quanto em relação ao
comportamento social que passa a exigir escolhas, surgindo turmas,
grupinhos, que cobrarão dos jovens mudanças em seu comportamento para
que este se sinta “parte” do grupo.
É comum haver uma queda do rendimento escolar no período em que a criança entra na adolescência.
Mesmo o jovem que nunca apresentou grandes dificuldades escolares pode
passar por um declínio no seu rendimento escolar e isso não deve ser
interpretado como prenúncio de problema na aprendizagem porque quando há
uma boa estabilidade na fase de adolescência o jovem volta a se
interessar e se empenhar nos estudos.
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E O ADOLESCENTE
O adolescente encaminhado para atendimento psicopedagógico está vivendo
um período muito especial de sua vida. É o reconhecimento de que algo
não vai bem com ele somado a um período turbulento de seu
desenvolvimento.
A adolescência se somada a problemas na aprendizagem pode levar a um grande sofrimento.
Lamentavelmente, quando encontramos um jovem que apresenta problemas na
aprendizagem, constatamos com uma certa freqüência que ele já
apresentava um desempenho escolar aquém de suas reais possibilidades,
denunciando antigas dificuldades.
Geralmente é uma dificuldade que
se arrastou por anos e que somada à turbulência da adolescência toma
proporções maiores a ponto de levar os pais a buscar ajuda.
A
intervenção psicopedagógica deve trabalhar em paralelo com os pais,
marcando encontros regularmente de modo a esclarecer dúvidas sobre a
intervenção além de liberar angústias e medos. Isso porque essa
proximidade, com os pais possibilita uma parceria onde todos se unem
para alcançar algo comum.
Os pais podem se encontrar, de tal
forma cansados e decepcionados, que nutrem sentimentos ambivalentes pelo
jovem e, proporcionar que eles coloquem esses sentimentos em palavras
para melhor lidar com eles é um passo importante para a compreensão e o
encontro de equilíbrio entre o que é real, possível em relação ao filho e
o que é imaginário e ofusca suas reais possibilidades.
Uma boa
intervenção psicopedagógica deve alcançar e sensibilizar pais e
professores a juntos contribuírem para o não agravamento da dificuldade
além de por meio de medidas preventivas, evitar o surgimento de outras.
POR:
Márcia Goulart Tozzi Pego - Pedagoga e Psicopedagoga; Mestre em
Psicopedagogia pela Universidade de Santo Amaro autora do livro: a
Representação Simbólica na Clínica Psicopedagógica, Ed. Vetor.