quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Leitura ou lei-dura?



O acesso à leitura é tema de inquestionável relevância para a sociedade, porém, ainda está na contramão da necessidade. A leitura é capaz de proporcionar ao indivíduo acesso a um mundo novo, que através da história, se confirma como um caminho para se chegar ao conhecimento. Discutir caminhos de acesso e fomento da leitura ainda é o objetivo de muitos pesquisadores da área.
O discurso denunciador da crise na leitura pensa as relações políticas entre escola, leitura e sociedade. Ezequiel Teodoro da Silva, em 1979, vê a crise na "lei-dura da leitura" imposta pela sociedade, que, por um conjunto de restrições "impede a fruição da leitura por milhões de leitores em potencial" (p.23). O autor faz suas “denúncias” expondo que a crise da leitura estaria na sociedade em geral, assim como, escolas e pesquisadores que são impedidos, de alguma maneira, de contribuir para a democratização do acesso ao livro. Instaura-se assim, mecanismos de alienação e controle.

1º. Parágrafo da lei – dura da leitura: somente a elite dirigente deve ler: o povo deve ser mantido longe dos livros. Os livros, quando bem selecionados e lidos estimulam a crítica, a contestação e a transformação – elementos estes que colocam em risco a estrutura social vigente e, portanto, regime de privilégios.

    (3) historicamente falando, a grande maioria do povo brasileiro nuca teve acesso ao livro. Chegamos à década  de 80 com uma taxa vergonhosa de analfabetismo, para não falar dos pseudo- alfabetizados que mal sabem ferrar a sua assinatura numa folha de papel.

    2º. Parágrafo da lei-dura da  leitura: No território nacional, diferentes aspectos da   leitura devem permanecer  como  pontos de interseção. O apoio à execução de pesquisas ao desenvolvimento de programas, visando à mudança, deve ser o mínimo possível de modo que as coisas permaneçam exatamente como estão.

1.      é paradoxal que, num país de tão grande dimensão e número de habitantes, exista uma exiguidade de investigações  na área da leitura. Na lista de prioridades de pesquisa, geralmente baixada pelas autoridades, o tópico “leitura” é  uma realidade. É  paradoxal porque a crise do livro e da leitura exige, sem dúvida, respostas ao nível da investigação cientifica.
2.      Com raras exceções as investigações sobre o problema da leitura, realizada na década de 70, apenas serviram para constatar o obvio ou seja que os estudantes estão lendo cada vez menos e que os seus interesses não são atendidos no âmbito da escola.

3º. Parágrafo da lei-dura da leitura : O  ensino da leitura, como proposto pelas escolas, deve ser  feito pelo processo de ensaio- e- erro. Deve é claro haver mais erros do que acertos de modo  a confundir o aluno – leitor. Não o gosto, mas o “desgosto” pela leitura deve ser incentivado. Mesmo o professor, por falta de condições deve ser impedido de ler criticamente.

1.      O  professor brasileiro, dada a sua condição de oprimido, também  é carente da
Leitura. O salário não é suficiente para comprar livros e enriquecer o acervo de sua biblioteca especializada nas escolas.
Os cursos de licenciaturas tocam por alto a pedagogia da leitura.

(2) O currículo da leitura das nossas escolas (principalmente as públicas) geralmente se apresentam desorganizados, não – sequenciados, parecendo ser estabelecidos na base da improvisação e do desleixo. em uma pesquisa realizada em Campinas, constatei que quanto mais o aluno sobe na hierarquia acadêmica, mais negativa é a sua atitude frente á leitura. Regina Zilberman, em pesquisa realizada em  Porto Alegre, mostrou alguns aspectos da falta de atenção para com a orientação de leitura dos alunos: repetição das mesmas obras literárias em diferentes séries, inadequação das obras ao leitor.etc….

4º parágrafo da lei – dura da leitura : os diferentes especialistas que fazem ciências na área da leitura devem trabalhar de forma não integrada ou compartilhada. A visão do todo, estabelecida  através da integração de perspectivas diversas (histórica, política, comunicacional, literária, psicologica, lingüistica, etc…..), é sempre perigosa e deve ser sempre evitada – os conhecimentos relativos à leitura no Brasil devem aparecer e serem disseminados na forma de “retalhos”.

35 anos se passaram, e alguma coisa mudou?

Estamos caminhando a passos lentos para a democratização do acesso a leitura. É preciso lutar para alcançar esse objetivo, porém, o problema da leitura, é reflexo de uma política precária que se estende a várias áreas sociais e acaba refletida na educação.


Referência
SILVA,E.T. Leitura ou lei-dura?In: ABREU,M. (org). Leituras do Brasil. Campinas-SP: Mercado das Letras, 1995.