
Pular um ano é bastante comum na pré-escola, mas adiantamento deve ser definido pela maturidade da criança
Pular um dos anos da Educação Infantil não é incomum. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a filha da professora universitária Michele Cunha Franco, de 43 anos. Quando Sofia cursava o que antes era conhecido como Jardim, nível anterior ao Pré, os professores perceberam que ela terminava as atividades muito antes das outras crianças. Receosos de que ela perdesse o interesse pela escola, já que não passava por desafios, sugeriram à mãe adiantar a filha. “A Sofia era mais madura: entre três e quatro anos ela não queria brincar de boneca e vivia me pedindo para ensiná-la a ler”, conta a mãe, que atendeu ao pedido.
Com brincadeiras improvisadas, Michele acabou iniciando a alfabetização da filha, que aos cinco anos já sabia ler e escrever. Na escola, avaliaram que Sofia não poderia ficar em uma sala de sua própria faixa etária, já que acabaria achando a escola um tédio.
O mesmo estava prestes a acontecer com a filha da secretária Vania Rayhel, 52 anos, se ela não pulasse um ano da Educação Infantil. “A Jéssica não queria brincar, ela queria aprender a ler e escrever”, diz. A escola acabou mudando-a de ano e a menina chegou ao Pré antes do esperado. “Nós não queríamos forçá-la a nada, mas tudo acabou dando certo e ela acompanhou sem problemas”, declara Vania.
Ambas as mães comentam que o adiantamento na escola não prejudicou em nada o desempenho das filhas. Mas Michele assinala que se a filha tivesse pulado um ano por conta da ansiedade da mãe, o estímulo talvez não funcionasse. “O plano foi bem-sucedido porque não foi forçado: a iniciativa era dela”, diz.
A psicopedagoga Nívea Maria de Carvalho Fabrício, diretora pedagógica do Colégio Graphein, em São Paulo, concorda: antecipar o ingresso de uma criança no Ensino Fundamental apenas para atender às expectativas dos pais é prejudicial. “De forma geral, alfabetizar crianças aos cinco anos pode ser uma loucura”, completa.
De acordo com a professora Neide de Aquino Noffs, psicopedagoga e diretora da faculdade de Educação da PUC-SP, outra questão deve ser levantada neste momento: a criança não vai acabar perdendo a infância mais cedo?
Para Neide, a criança de cinco anos precisa ter a infância preservada e não há a menor necessidade fazê-la começar no Fundamental tão cedo. “No passado, quando a criança era adiantada, acontecia de uma maneira mais natural e não se corriam tantos riscos”.
Ao pular um ano letivo, a criança enfrenta um descompasso entre o intelectual e o emocional, o que pode atrapalhar o desenvolvimento escolar. Uma forma de contornar o dilema seria apostar em atividades extracurriculares, capazes de saciar a curiosidade e a aptidão intelectual precoce. “Excepcionalmente, pode acontecer de uma criança estar além das outras. Mas, na maioria das vezes, a escola deve se adaptar a ela”, diz Neide.
O processo de alfabetização costuma começar entre os seis e sete anos e pode acontecer mais rapidamente para algumas crianças do que para outras, mas de acordo com a orientadora pedagógica e educacional do Colégio Equipe, Luciana Fevorini, o aprendizado mais rápido não deve ser motivo para os pais verem em seu filho um pequeno gênio.
O adiantamento depende de uma mistura de capacidades – de leitura, escrita e habilidades matemáticas – que devem ser analisadas a fundo. “As expectativas exageradas da família em relação à alfabetização não é legal. As escolas precisam saber fazer uma avaliação correta neste momento, até mesmo do desenvolvimento corporal da criança, das capacidades sociais e cognitivas”, diz. Para ela, o ideal é realmente respeitar a idade.
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