terça-feira, 3 de julho de 2012

Dificuldades de aprendizagem: a lateralidade cruzada!

Dificuldades de aprendizagem: a lateralidade cruzada!


Em algumas ocasiões a mão dominante (a direita) não coincide com o olho dominante (o esquerdo) de uma pessoa, o que pode provocar problemas de aprendizagem e de desenvolvimento, sobretudo no que diz respeito à escrita.
A lateralidade é uma função complexa que deriva da organização binária do nosso sistema nervoso. De facto, grande parte do nosso corpo articula-se de forma dupla: dois olhos, dois ouvidos, duas orelhas, dois pulmões, dois rins, etc. O nosso cérebro também dispõe de duas estruturas hemisféricas especializadas que são responsáveis por controlar todo o complexo sistema dual, integrando a diferente informação sensorial, orientando-nos no espaço e no tempo e, definitivamente, interpretando eficientemente o mundo que nos rodeia.
Normalmente diferenciam-se quatro tipos de preferência ou dominância:
- Dominância Manual: preferência ou maior facilidade para utilizar uma das mãos (direita ou esquerda) para executar acções como apanhar objectos ou escrever.
- Dominância Pedal: indica-nos o pé dominante para efectuar acções como chutar uma bola, manter-se de pé apenas com uma perna, etc.
- Dominância Ocular: embora os dois olhos sejam necessários para configurar uma imagem correcta, há um que se prefere para olhar por um telescópio ou para apontar, trata-se do olho dominante.
- Dominância Auditiva: refere-se à preferência ou tendência de escutar mais por um ouvido que por outro, por exemplo, ao falarmos ao telefone.
Falamos de lateralidade homogénea quando a mão, o pé, o olho e o ouvido oferecem uma dominância no mesmo lado, quer seja no lado direito (destro) quer seja no lado esquerdo (esquerdino). Estamos perante uma lateralidade cruzada quando existe uma lateralidade distinta da manual para os pés, olhos ou ouvidos (por exemplo, mão direita dominante com domínio do olho esquerdo). Nestes casos também se fala de “assimetria funcional”.
A lateralidade cruzada mão-olho tem sido uma das mais estudadas e com frequência é sinónimo de problemas na aprendizagem, em especial nos processos de leitura e de escrita.
O que determina a lateralidade?
O facto de uma criança ser destra ou esquerdina depende de muitos factores, entre os quais se encontram a informação genética, a influência do ambiente familiar, a educação e a aprendizagem recebida.
Alguns estudos apontam que a possibilidade de se ter um filho esquerdino sendo os progenitores destros é de cerca de 9,5%, aumentando este número para 26% se ambos os pais forem esquerdinos.
Também está provada a influência de factores ambientais e sociais. Por exemplo, se desde pequena uma criança é orientada a escrever com a mão direita ou a apanhar objectos com esta mão, será provável que seja destra. Para além de que muitos objectos estão concebidos para serem manipulados por destros.
Problemas de aprendizagem
Embora nem todas as crianças têm lateralidade cruzada apresentem problemas de aprendizagem, é certo que têm maiores probabilidade de padecerem de:
- Dificuldades de autonomização de leitura, de escrita ou de cálculo.
- Ler muito devagar e com pausas.
- Dificuldade de atenção. Hiperactividade.
- Problemas para organizar adequadamente o espaço e o tempo.
- Dificuldades na ordenação da informação codificada.
- Confusões direita-esquerda que dificultam a compreensão da dezena, centena.
- Confusão ente a soma e a subtracção ou entre a multiplicação e a divisão. Também entre sílabas directas e inversas.
- Desmotivação. Escasso ou nulo interesse em algumas actividades.
- Torpeza psicomotora. Confusão para situar-se à direita ou à esquerda a partir desse meio corporal.
- Melhor nível de compreensão das explicações verbais que das tarefas escritas.
- Preferência pelo cálculo mental que pelo escrito.
- Pode apresentar disgrafia, dislexia, discalculia e tende a expressar o contrário do que pensa.
- Escrever letras e números invertidos, como se estivessem reflectidos num espelho.
- Incapacidade para concentrar-se numa única tarefa durante um espaço de tempo determinado.
- Segundo o perfil da criança pode manifestar-se inibição, irritabilidade, desesperança, reacções desmedidas, baixa auto-estima, etc.
Como detectar?
Até que a criança não comece a escrever (por volta dos 5 anos) não se avalia o tipo de lateralidade que apresenta. Há que ter em conta que nestas idades a lateralidade ainda está em construção, pelo que a avaliação não será determinante.
O problema não é ser destro ou esquerdino, mas sim que as diferentes dominâncias estejam organizadas no mesmo lado, especialmente no que diz respeito à mão, olho e pé. Se for detectado na criança alguns dos problemas descritos em cima, será conveniente efectuar alguns exames para ver se a causa dos mesmos está na lateralidade cruzada.
Dominância manual:
- Peça à criança que apanhe um lápis que está na mesa e que escreva uma série de números. Em condições normais a mão com a qual escrever será a mão dominante. Peça-lhe que apanhe outros objectos (pente, brinquedos, etc.) para comprovar se continua a usar a mesma mão.
De seguida, peça ao seu filho para escrever a mesma série de números com a outra mão. Uma criança destra (ou esquerdina) bem organizada deveria apresentar grande dificuldade para escrever números com a mão esquerda apresentando inversões frequentes.
Dominância ocular:
- Um dos exames mais recorrentes é o do papel perfurado. Pegue num papel qualquer e faça-lhe um buraco no centro. Depois peça ao seu filho que de pé, com os braços esticados, sustenha o papel e olhe (a esta distância) através do buraco para um ponto situado atrás. A seguinte instrução é que vá aproximando a pouco e pouco a cara do papel até tocar no mesmo. A criança deve fazê-lo sem deixar de olhar pelo buraco e focando o ponto que fixava. Uma vez que o papel está junto ao rosto, a criança situou o buraco em frente ao olho dominante.
Também pode, através de um telescópio, que olhe através dele. O olho que escolher para fazê-lo será o dominante.
Dominância de pé:
Os exames clássicos compreendem um amplo reportório como chutar uma boa ou manter-se durante um determinado período de tempo equilibrado num só pé. Em ambos os caos a perna com a qual executar a acção pode ser a dominante.
Dominância auditiva:
É, sem dúvida, a que menos atenção tem tido e, por sua vez, a que pode apresentar maior variabilidade segundo a tarefa a efectuar. Os exames mais simples consistem em entregar algum objecto com um ruído ténue (auricular, relógio ou outro) e pedir à criança que escute atentamente. A orelha à qual dirigir o objecto é a dominante.
A finalidade destes exames é comprovar se a mão, o olho, o pé ou o ouvido dominantes coincidem.
Actividades para favorecer a sua aprendizagem
A intervenção para solucionar este problema é um tema muito controverso. Alguns psicólogos opinam que se deve começar desde que a criança seja muito pequena para evitar problemas posteriores na aprendizagem. Outros, pelo contrário, minimizam as consequências e defendem o desenvolvimento natural do processo limitando a intervenção para potenciar na criança as dominâncias estabelecidas.
Cada criança é diferente, pelo que deverá contar com a opinião de um psicólogo para determinar se é melhor levar a cabo uma terapia ou não.
A má lateralidade pode manifestar-se de diferentes formas, sendo a mais corrente a que pode dominar-se como cruz lateral simples na qual a criança utiliza habitualmente o seu olho dominante e escreve com a mão sub-dominante, ou seja é o caso de crianças destras de pé e mão mas com dominância no olho esquerdo ou vice-versa.
Nestes casos aconselha-se que actue sobre a alteração da dominância de mão antes da dominância de olho, já que assim opera a favor da tendência neurobiologica da criança.
No caso de aplicar-se uma alteração de dominância visual deve contar-se com as directrizes de um especialista em optometria que dirija o tratamento, que normalmente consiste num programa de treino visual que implica a obstrução do olho que deve ceder à dominância.
Para além disso, os pais podem ajudar a criança com diferentes actividades para reforçar a lateralidade:
- Assinalar, reconhecer e nomear cada uma das partes e detalhes, no próprio corpo e noutro.
- Reconhecer erros nos desenhos semelhantes.
- Reconhecer a posição que se tem em relação a um objecto: à direita, à esquerda, atrás, etc.
- Lançar e apanhar objectos, balões, etc.
- Bater palmas alternadamente.
- Abrir e fechar as mãos rapidamente.
- Tocar cada dedo com o polegar da mão respectiva.
- Lançar objectos com uma mão e com outra.
- Manter um objecto em equilíbrio numa mão enquanto com a outra se faz outra acção.
- Realizar desenhos com os dedos e com outro tipo de tintas.
- Repassar a própria mão dominante, contornando-a com um lápis, pintando-a e recortando-a.
- Com os olhos fechados identificar que objectos é que estão situados à esquerda e à direita.
- Desenhar pequenos objectos à esquerda e à direita de outro desenho.
- Escrever grupos de palavras que comecem por letras de simetria inversa.
- Actividades de movimentos dos olhos: movimentos direccionais (para cima, para a direita, etc.), movimentos com apenas um olho (olhar através de um tubo, fechar um olho, etc.).
- Actividades de recortar e colar.
- Actividades de seguir linhas, caminhos e labirintos.

Fonte: http://www.todopapas.com.pt

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