quinta-feira, 24 de maio de 2012

Falar e escrever: dois caminhos diferentes a seguir?



Fala X Escrita
Por volta dos seis anos de idade a criança domina a língua oral e vai iniciar, nessa época, o aprendizado da leitura. Entretanto, se o desenvolvimento da fala ocorre de maneira natural, o da escrita será resultado de uma aprendizagem explicita.
O bebê possui competências naturais que lhe permitem aprender a falar. Essas competênc...ias são “ativadas” no contato com o meio social que o cerca. Consequentemente, ele vai compreender e verbalizar a fala sem ter necessidade de um conhecimento prévio sobre as estruturas ou regras que compõem a língua oral.
De maneira diferente se dá o desenvolvimento da língua escrita, pois que esta é uma criação do homem.

A língua escrita: uma reflexão sobre a língua oral?
A aprendizagem da língua escrita em um sistema alfabético necessita do tratamento consciente e voluntário dos componentes da fala. Enquanto que uma criança não alfabetizada trata a língua oral de maneira natural e intuitiva, o pequeno aprendiz da leitura será levado a tomar a fala como um objeto de reflexão e análise, o que torna a aprendizagem da língua escrita mais custosa.

Sobre o que a criança alfabetizada deve então refletir?
O momento de ler e de escrever é o momento de refletir sobre algo que foi feito até então de maneira intuitiva. A criança inevitavelmente vai apoiar-se na oralidade nesse início da aprendizagem da língua escrita, mas, para que haja desenvolvimento, ela deve pouco a pouco perceber as particularidades de cada um desses sistemas lingüísticos.
O aluno então deverá se tornar consciente de que:
-A frases faladas são formadas por palavras e, ao escrever, essas palavras devem estar separadas uma da outra;
-Cada palavra é formada por sílabas e estas por fonemas - aqui entra a “Consciência Fonológica”, bastante citada nas literaturas sobre dislexia.
-As sílabas e os fonemas, se tiverem sua ordem alterada, mudarão toda a palavra;
-Alguns sons da fala são representados graficamente sempre da mesma maneira, já outros poderão ser representados por vários símbolos gráficos diferentes – a criança deverá escolher, entre essas várias possibilidades, a “boa”, ou seja, aquela que é adequada para a palavra a ser escrita;
-Ao contrário, algumas letras podem ganhar sons diferentes dependendo do contexto em que são utilizadas. Nesse caso, será durante a leitura que a criança perceberá que o “s” de “casa” e de “sapo” são pronunciados diferentemente;
-A entonação, a comunicação corporal, enfim, as diversas pistas transmitidas durante a fala, terão que ser representadas na escrita através de frases bem elaboradas e pontuações.

A Consciência Fonológica:
A leitura e a escrita vão exigir da criança um nível de atenção não exigida durante a fala. De todos os itens mencionados anteriormente, a Consciência Fonológica é o assunto do momento. Na França, por exemplo, a lei educacional exige que seja realizado um trabalho visando o desenvolvimento da linguagem dos pré-escolares e, no interior desse trabalho, encontramos o item 4.4 denominado “Tomar consciência das realidades sonoras da Língua” cuja tradução segue abaixo:

“O sistema da escrita alfabética se funda essencialmente na relação entre as unidades distintivas da linguagem oral (fonemas) e unidades gráficas (grafemas). Uma das dificuldades de aprendizagem da leitura reside no fato de que os constituintes fonéticos da linguagem são dificilmente percebidos pela criança pequena. Consequentemente, a criança trata os enunciados que lhe são dirigidos de maneira a compreender seu significado e sem analisar seus constituintes. É então conveniente lhe permitir escutar de outra maneira a fala dos outros e a sua própria, levando a criança a prestar atenção nos aspectos formais da mensagem.”

“Sabe-se que a poesia trabalha os constituintes formais, ritmos e sons, assim como com os significados. É por essa via que nós podemos introduzir as crianças a uma nova relação com a linguagem: cantigas, músicas, poesias, trava-línguas (...).”

“(...) A sílaba é um ponto de apoio importante para aceder às unidades sonoras da linguagem. Encontrar as sílabas que constituem um enunciado é o primeiro passo para tomar consciência quanto aos fonemas da língua. Nós chamaremos atenção para o fato de que as sílabas existem na fala e, segundo a maneira como nós as recortamos, os enunciados formados serão diferente. Uma das maneiras mais simples de fazer com que as crianças sintam as sílabas é ritmar os enunciados com batidas de mãos, por exemplo. Isso pode ser feito naturalmente durante uma canção e muito facilmente nas cantigas e poemas (...). De uma maneira geral, todas essas atividades devem ser curtas, porém, freqüentes, fazendo parte dos jogos ou dos momentos dedicados às atividades de educação artística.”
 

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