quinta-feira, 28 de junho de 2012

DISLÉXICOS TÊM CHANCE NO VESTIBULAR?



Entre as características dos disléxicos podemos citar a lentificação do processamento de informações, principalmente relacionadas à leitura, escrita e interpretação de textos.

Isto se dá devido ao processo de leitura utilizado pelo disléxico, que ativa áreas do cérebro não especializadas para esta função, fazendo a ...tarefa ser um processo de decodificação não automatizado, o que leva à lentificação da resposta e ao cansaço excessivo relatado por alunos com dificuldades de aprendizagem em tarefas de leitura e escrita, principalmente as mais demoradas como, por exemplo, as provas de vestibular.

Sendo assim como proceder em relação ao processo de seleção utilizado pelas faculdades e universidades?

Já existe um consenso entre as principais instituições de ensino do Brasil de que se deve dar ao disléxico condições diferenciadas por ocasião do vestibular. E quais são estas condições?

A principal delas é um maior tempo para a realização da prova (cerca de uma hora e trinta minutos a mais).
Esta condição é fundamental se levarmos em conta a diferença apresentada pelos disléxicos em relação à velocidade de trabalho (na leitura e escrita).

Além disso, é oferecido ao disléxico o direito de ter um ledor à sua disposição. Este ledor, de preferência uma pessoa que tenha bom conhecimento do distúrbio, realiza a leitura da prova para o aluno e este, com este recurso, processa a informação mais rapidamente e registra sua resposta. O ledor não interfere nesta escolha.

Este assistente de prova pode ainda revisar as anotações na folha de resposta, pois como no quadro da dislexia existe uma dificuldade de atenção, o aluno poderia marcar a resposta certa no caderno e transcrever de forma errada para a folha de respostas (que é a que realmente conta para a apuração). O assistente faria então a conferência da transcrição. Vale lembrar que além da dislexia é frequente coexistir o quadro de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade , tornando ainda mais necessária essa revisão da folha de respostas.

O ledor pode ainda ser auxiliar na redação (um dos maiores obstáculos para o disléxico numa prova de vestibular). Umas das formas de auxiliar neste momento é o aluno elaborar a redação e ditar para o ledor escrever. A nota ponderada também pode ter critério diferenciado.

Há universidades que disponibilizam ainda o uso de calculadoras. Vamos explicar...

Uma vez que os disléxicos encontram dificuldade em decorar, são mais lentos em realizar operações matemáticas, pois fazem o roteiro completo das tabuadas para cada conta que fazem (o que, é claro, leva muito mais tempo). E ainda existe a questão da interpretação do enunciado, que pode levar tempo (lembre-se que o texto precisa ser decodificado).

Essas condutas diferenciadas não colocam os disléxicos em melhores condições do que os demais alunos ao acesso à universidade, mas os colocam em condições de igualdade, considerando suas (dos disléxicos) necessidades diferenciadas para expressarem os conhecimentos adquiridos.

Pode-se observar que estas condições e possibilidades têm feito muita diferença em relação à autoestima das pessoas com dificuldades de aprendizagem, colocando-os aptos a galgarem posições que de outra forma talvez não pudessem alcançar.

O valor do profissional disléxico já tem despertado o interesse inclusive de grandes empresas que também estão oferecendo estas mesmas condições diferenciadas aos disléxicos que participarem de concurso público para ingresso nos quadros de funcionários.

A ABD – Associação Brasileira de Dislexia tem profissionais capacitados que têm exercido esta função de ledor ou assistente nas provas de vestibular e concurso público ou orientado as instituições de ensino e empresas interessadas.

É importante citar que estas condições diferenciadas devem ser solicitadas pelos interessados por ocasião de inscrição para o vestibular ou concurso público, além de apresentarem laudo conclusivo constando o diagnóstico de dislexia realizado por equipe multidisciplinar especializada.
 Por:Maria Inez Ocanã De Luca, Psicóloga - Pós-graduada em Aprendizagem com foco em saúde
Mestre em Psicologia da Saúde, Especializada em Neuropsicologia
inez.deluca@dislexia.org.br

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