A deficiência intelectual não é uma doença. Antes de tudo é o
resultado de um processo patológico, no cérebro, caracterizado por
limitações nas funções intelectuais e adaptativas.
Frequentemente, o tema ainda é encarado como um tabu. Muitas pessoas
ainda encaram a situação com vergonha, procurando falar pouco a
respeito, tentando encontrar diagnósticos alternativos.
Assim como todos os temas previamente publicados, acredito que a
informação e o esclarecimento são fundamentais. O conhecimento
transforma, abre caminhos, liberta, acalma.
O QUE É A DEFICIÊNCIA MENTAL?
Por definição, a deficiência mental, de acordo com o Manual
Diagnóstico Estatístico de transtornos mentais (DSM-IV), é um
funcionamento intelectual geral abaixo da média resultando em, ou
associado a, prejuízo concomitante no comportamento adaptativo e
manifestado durante o período do desenvolvimento, antes do 18 anos de
idade.
Esse funcionamento intelectual abaixo da média traduz-se por uma
inteligência abaixo da média e o prejuízo no comportamento adaptativo se
observa nas limitações nas mais diversas áreas: comunicação e cuidado
pessoal, vida em casa e habilidades sociais, funcionamento na
comunidade, saúde e segurança, lazer e trabalho.
A DEFICIÊNCIA MENTAL É COMUM?
Infelizmente, é extremamente comum. Estima-se que cerca de 1% da
população tenha algum grau de deficiência mental. A incidência, no
entanto, é extremamente difícil de calcular. Isso ocorre, principalmente
pelo fato de que a deficiência mental é difícil de ser reconhecida,
especialmente em crianças menores, leva-se tempo.
Aspectos cognitivos e intelectuais de crianças recém-nascidas ou
pequenas são muito semelhantes independentemente de haver ou não um
quadro de deficiência intelectual. À medida que a criança cresce, suas
necessidades intelectuais vão aumentando, a sociedade se torna mais
exigente e fica mais fácil reconhecer um quadro de deficiência
intelectual.
COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA MENTAL?
Um adequado diagnóstico da deficiência mental é fundamental para o
manejo e para o encaminhamento para serviço de referência. O diagnóstico
acurado permite não só o entendimento do quadro clínico, mas também
permite o encaminhamento para a inclusão escolar, a inclusão ao mercado
de trabalho, o aconselhamento familiar e aconselhamento legal.
Para o diagnóstico da deficiência intelectual é fundamental a análise
neuropsicológica que permite a demonstração, de forma objetiva, das
limitações intelectuais da criança, bem como a classificação objetiva da
deficiência intelectual em graus:
Profundo: Retardo significativo; capacidade mínima para funcionar em
áreas sensório-motoras, precisa de auxílio e supervisão constantes.
Grave: Desenvolvimento motor pobre; fala mínima, em geral incapaz de
beneficiar-se de treinamento em auto-ajuda; pouca ou nenhuma habilidade
de comunicação.
Moderado: Pode aprender a comunicar-se, consciência social pobre;
desenvolvimento motor razoável; beneficia-se com treinamento de
auto-ajuda; pode ser manejado com supervisão moderada.
Leve: Pode desenvolver habilidades sociais e de comunicação; retardo
mínimo em áreas sensório-motoras; com freqüência não é identificado
distinguindo-se das crianças normais somente mais tarde.
A DEFICIÊNCIA MENTAL É DIAGNÓSTICO OU SINTOMA?
Essa talvez seja uma das perguntas mais importantes. Frequentemente
nos deparamos com crianças com diagnóstico registrado em prontuários ou
relatórios de deficiência intelectual.
Nesses casos, sempre me pergunto? Qual a causa da deficiência mental?
Apesar de todas as dificuldades, sempre acreditei na necessidade de se
investigar a causa e, nesse caso, acredito que a deficiência mental é um
sintoma e que demos sempre buscar a causa, o diagnóstico.
As causas de deficiência mental são várias: gestacionais (exposição
materna ao álcool ou outras substâncias, infecções durante a gestação,
etc.); perinatais, neonatais, causas genéticas e hereditárias, condições
neurometabólicas. A lista é realmente enorme e as dificuldades
diagnósticas são igualmente grandes.
Para se ter uma idéia vamos considerar os seguintes quadros de
deficiência mental: Quando a deficiência mental é grave, podemos
encontrar o diagnóstico definitivo em mais de 60% dos casos
(anormalidades cromossômicas – 30%; agressões ao cérebro em
desenvolvimento – 15%; mal-formação do sistema nervoso central – 15%;
síndromes genéticas – 5%; doenças neurometabólicas – 5%). Quando a
deficiência mental é leve, nós não encontramos o diagnóstico definitivo
em mais de 60% dos casos. Mas nada nos impede de tentar.
Entre os transtornos cromossômicos a síndrome de Down e a síndrome do
X-frágil são os transtornos mais prováveis de produzir ao menos retardo
mental moderado.
A DEFICIÊNCIA MENTAL E A INTERDISCIPLINARIDADE
A deficiência mental é talvez a condição que mais depende da
interdisciplinaridade. Depende da investigação neuropediátrica para se
tentar chegar a um diagnóstico definitivo e, com isso, tentar métodos de
prevenção.
É necessário se educar a população quanto às causas, informar quanto
ao risco de recorrência em uma mesma família. Mas como se calcula a
chance de um transtorno mental acontecer mais de uma vez em uma mesma
família sem se saber o diagnóstico? Por isso, a investigação diagnóstica
é tão importante
Depende de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas
ocupacionais para que tenha uma reabilitação adequada, uma melhora na
sua funcionalidade.
Depende de educadores, psicopedagogos para uma inclusão eficiente,
para criar ambientes educacionais adequados e de respeito ao próximo.
Depende de assistentes sociais e de legisladores para lutar por políticas de saúde públicas mais eficientes e mais inclusivas.
Depende de todos nós para tirar a deficiência intelectual das sombras.
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