sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DISGRAFIA

MELHORE A LETRA, SEI QUE VOCÊ É CAPAZ



Quantas crianças já não receberam esse bilhetinho no caderno? E quantas mães não se perguntaram o que fazer com a letra feia de seus filhos?

Prá início de conversa vamos deixar claro que não é tão simples fazer uma letra bonita, aquela letra redonda- de professora – como se dizia.

Não basta decidirmos que apresentaremos as letras no Pré, no primeiro ano as crianças estarão escrevendo e lendo e logo no início do segundo ano introduziremos a letra cursiva e – tudo bem, teremos lindas letras.Tudo muito rápido! Será que é necessária tanta pressa diante de uma tarefa dessa importância e magnitude?

A escrita é objeto de conhecimento social e por meio dela nos comunicamos, nos integramos, nos expressamos. Vale lembrar que é um sistema de alta complexidade e a capacidade de usar esse código requer várias integridades. Os principais fatores envolvidos relacionam-se ao desenvolvimento psicomotor, linguagem auditiva, memória, planejamento, organização espacial, capacidade de ordenar ideias em sequência, coordenação da mão, mente, olho. E o mais importante: não se desenvolve só com base no amadurecimento, precisa ser ensinada.

Todos os movimentos para aquisição da escrita e que são necessários para a grafia das letras devem ser ensinados. Exercícios de motricidade para coordenação motora, preparação da escrita, preensão do lápis, cadernos de caligrafia, passaram a ser olhados, atualmente, com desdém e classificados como fora de moda; no entanto deveriam ser retomados. Esse ensino não precisa ser de forma rígida e monótona. Podem-se inventar labirintos, vôo de bichinhos, corrida com carrinhos, aviõezinhos, para o ensino de cada movimento.

Sendo, pois, a escrita um código, a letra precisa ser legível, para que cumpra sua função de comunicação. Uma letra bonita, elogiada, certamente deixa a criança orgulhosa, ao passo que a letra ilegível, não é privilégio de médicos, muitas crianças a apresentam, embora se esforcem para escrever bonito; e o fracasso nessa área pode abalar a autoconfiança e consequentemente levá-la a evitar o ato de escrever.

Esgotados os recursos de ensino, se a letra ‘feia’, ilegível, persistir podemos estar diante de um quadro de disgrafia. Essa é uma disfunção resultante de integração visomotora. Não há um distúrbio visual e tampouco motor, mas a criança não consegue transmitir as informações visuais ao sistema motor. É um problema de escrita relacionado à execução- que é realizada com esforço; quando a dificuldade motora é mais abrangente define-se um Transtorno da Coordenação Motora.

A disgrafia é bastante frequente nos quadros de dislexia. Dificuldade para escrever números e letras, a posição das mãos para a escrita, traços irregulares e dificuldade na coordenação do direcionamento espacial fazem parte do quadro. Algumas intervenções podem ser feitas para promover uma melhor execução da escrita como adequação ao tipo de lápis, caneta e caderno para modelos mais anatômicos, maior tempo para realização de tarefa, adaptação no caderno com reforço de linhas direcionais. Em alguns casos, o uso de letra de forma ou bastão e uso de computador e suas ferramentas de editor de texto como instrumento de auxílio na organização da escrita.

Assim, para que se melhore a letra são necessárias várias habilidades, contribuição dos professores, além de trabalho sistematizado desde as séries iniciais. Vamos aguçar nosso olhar e considerar que, muitas vezes, em resposta ao bilhete inicial do nosso texto – a criança não é capaz - não porque não queira, mas porque não pode.

*Áurea M. Stavale Gonçalves
Neuropsicologa- CAE – Associação Brasileira de Dislexia
Psicopedagoga Clínica

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- MAIA H.-org. Neurociências e desenvolvimento cognitivo, vol 2, Rio de Janeiro,2011

- MYKLEBUST,H; JOHNSON,D. Distúrbios de Aprendizagem, São Paulo :Biblioteca Editora Pioneira de Ciências Sociais,1993
SENNYEY, A.;CAPOVILLA F.;MONTIEL J.M.- Transtornos de aprendizagem das avaliação à reabilitação- São Paulo:Artes Médicas,2008

- SNOWLING M.; STACKHOUSE J. Dislexia, fala e linguagem-,Porto Alegre: Artmed, 2004.

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